14 de set. de 2025
IA no content design: revisão estratégica, curadoria e prompt design
Três competências para escalar com IA no content design: revisão estratégica, curadoria e prompt design. Automatize o volume, preserve o valor
Uma vertente de pensamento interessante acerca do tema inteligência artificial é que, com a popularização dos modelos generativos, a exceção vai ser algo feito estritamente por pessoas, já que a maioria dos conteúdos será automatizada.
Seguindo essa lógica, a valorização do esforço humano especializado tende a aumentar, como um recurso premium.
No caso da escrita, um texto feito por uma pessoa, sem nenhum contato com IA, se torna um processo quase artesanal, em que o conhecimento, a dedicação e a escultura das palavras serão de caráter singular. Algo similar aos produtos orgânicos, por exemplo, que têm maior valor agregado devido ao processo de produção.
Linha do tempo: de usabilidade a UX writing
Cronologicamente, UX writing só nasceu quando o UX Design já existia há uns bons 15 anos, a partir da constatação de pessoas designers, desenvolvedoras e pesquisadoras de UX de que, mesmo que suas soluções atendessem às necessidades da pessoa usuária, faltava identificação e engajamento.
O conceito de usabilidade surgiu nos anos 1980 e ganhou força com Jakob Nielsen e Donald Norman, que defendiam a importância da eficácia e da eficiência no uso de um produto ou serviço.
Na sequência, nos anos 1990, o design de interação se consolidou e ganhou força, com ênfase na criação de fluxos e comportamentos que facilitassem o uso de interfaces.
Nos anos 2000, UX expandiu suas diretrizes com a arquitetura da informação e UX Research. Nos anos 2010, UX Design se tornou um campo amplo, englobando todo o ecossistema da criação de produtos digitais. Foi nessa época também que começou a aparecer o conceito de estratégia de conteúdo, olhando para a consistência e a inserção da voz da marca.
Apenas na segunda metade dos anos 2010, por volta de 2015 e 2016, é que a função de UX writer começou a aparecer nas grandes empresas. A profissão surge como reflexo da maturidade de UX em geral, quando o Design ficou mais elaborado, a concorrência mais acirrada, e percebeu-se que writing também é Design. A partir daí, o conteúdo passou a ser visto como um ponto estratégico.
Então, seguindo essa linha racional, pode ser que a percepção do valor humano na escrita, devido às habilidades intrinsecamente humanas requeridas para uma experiência diferenciada, só surja mesmo quando a IA estiver tão difundida a ponto de a maior parte do conteúdo produzido na internet ter sido feito por ela.
Novas competências (sem perder as antigas)
Para se adaptar ao mundo da IA, UX writers e content designers devem adquirir novas habilidades, além de fazer a manutenção das que já possuem. Revisão estratégica, curadoria e prompt design são algumas delas.
Revisão estratégica
Revisar, por si só, é uma visão de fora para dentro. É cortar as arestas de um texto, avaliar ortografia e adequar o tom de voz, pensando em formato e normas técnicas. Não é necessariamente um olhar para quem vai ler, mas um refinamento do que foi criado, sem mudar a essência.
Já revisar estrategicamente é um pouco mais profundo; vai além da linguística exemplar. É preciso conhecer o público-alvo e sua linguagem e entender a voz da marca e seus variados tons, de acordo com os canais e a mensagem. É também aplicar clareza, utilidade e concisão, pensando na experiência obtida através do texto.
Ao usar um modelo de IA generativa para agilizar processos de writing, a revisão estratégica torna-se essencial para um resultado textual coerente e adequado ao produto.
Curadoria
Fazer curadoria é outra competência crucial para UX writers e content designers na era da IA. Curar é a ponte crítica que separa os textos automatizados genéricos de experiências comunicativas autênticas.
Na prática, a curadoria envolve várias ações: escolher e refinar a melhor opção de conteúdo, balancear as intenções do negócio com as necessidades da pessoa usuária, manter a consistência da voz (com base em guia de estilo, content design system e dicionários de vocabulários controlados), mitigar vieses e orquestrar todos os pontos relacionados à comunicação.
Prompt design
Certamente você já se frustrou com o output de uma IA — e a culpa nem é dela, e sim do prompt que você escreveu. Para que a IA gere uma resposta que faça sentido para o que precisamos, o input precisa ser cuidadoso. Ou seja: é preciso saber escrever o prompt.
Só é possível chegar a respostas precisas e úteis se as instruções dadas forem claras e contextualizadas. É como um briefing: quando demandamos algo de alguém, as informações devem ser suficientes para que uma entrega seja feita. No caso da IA, isso envolve muitos aspectos, inclusive a compreensão de como ela funciona tecnicamente.
Para UX writers e content designers, saber escrever bons prompts significa guiar a IA como uma ferramenta de Design, não apenas como uma geradora de textos.
Prompt simplório e ineficaz:
“Escreva uma mensagem de erro para um app bancário”.
Prompt bem pensado e escrito:
“Escreva uma mensagem de erro de no máximo 20 palavras, com tom empático e claro, para um app bancário que não conseguiu carregar o saldo. Os princípios norteadores do banco são amigável e elegante. Evite termos técnicos. Priorize a confiança da pessoa usuária”.
Assim, a chance de a resposta ficar mais próxima do que você espera é maior e o trabalho de revisão estratégica e curadoria será otimizado.
Conclusão
A automação tende a cobrir o volume. O diferencial do content design continua sendo humano: revisão estratégica para dar direção, curadoria para dar coerência e prompt design para dar precisão.
Quem dominar essas camadas transforma a saída de modelo em experiência que engaja, respeita e entrega valor — hoje e nos próximos ciclos da IA.
No fim, são os sentimentos e todas as suas complexidades que nos diferenciam das máquinas. É a nossa visceralidade emocional que desperta a criatividade e nos leva além. A forma como sentimos e entendemos o mundo sustenta as habilidades que só pessoas têm e que fazem toda a diferença na construção de produtos e serviços.
Publicado em:

UX Writer, Content Designer e Conversation Designer com mais de 6 anos de experiência e há mais de 12 trabalhando com digital content. Formada em Administração, pós-graduada em Marketing e emigrada em Portugal, se interessa por literatura e escrita desde que se entende por gente. Acredita que as palavras têm poder e que a linguagem é transformadora.
Leia também
Como montar um portfolio para trabalhar com UX Design
Editora Brauer
Como fazer teste de usabilidade: Planejar, executar e analisar testes de usabilidade de forma eficaz
Editora Brauer
Como definir Personas e Proto personas: Humanizando Projetos de UX focados no Usuário
Editora Brauer
Profissionais de UX: Como criar experiências memoráveis e superar expectativas
Daniel Furtado
Desafios comuns para UX designers em grandes corporações
Bruno Duarte