2 de jul. de 2025
O que significa mensurar impacto em UX Research?
Três dimensões e um convite à reflexão sobre como evidenciar o valor da pesquisa na prática.
Mensurar o impacto de UX Research é um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma das maiores oportunidades para equipes de Produto e Design. Entender o valor gerado pelas pesquisas, além de organizar e operacionalizar o processo, é fundamental para garantir que o trabalho do time seja reconhecido e, principalmente, gere mudanças reais para o negócio e para os usuários.
Mas como traduzir esse impacto? Que tipo de resultados devem ser considerados?
Três dimensões em que o impacto pode aparecer
Este texto não traz respostas definitivas. Minha proposta aqui é iniciar uma conversa, lançar provocações, e ajudar você a refletir sobre o que pode ser observado dentro da sua empresa ao buscar evidências do valor de UX Research. Para isso, convido você a pensar em três dimensões em que esse impacto pode se manifestar:
Validação do valor gerado: Muitas vezes, líderes e gestores não enxergam o impacto direto das pesquisas, esperando resultados imediatos logo após a entrega do relatório. Porém, o impacto real pode levar meses para se manifestar, como mudanças em planos, preços ou até mesmo economia de recursos por evitar o lançamento de funcionalidades desnecessárias. Exemplo: "O impacto foi economizar dinheiro por causa do recurso X que ninguém usava."
Acompanhamento de mudanças: É importante criar mecanismos para acompanhar o que aconteceu após a entrega do relatório, como agendar revisões após alguns meses para entender o que foi implementado e quais resultados foram alcançados.
Apoio à tomada de decisão: Métricas e acompanhamento de impacto ajudam a mostrar para a liderança que o trabalho de pesquisa não é apenas custo, mas sim investimento que pode gerar aumento de receita, engajamento ou satisfação.
Essas dimensões não são excludentes. Uma influencia a outra e todas merecem atenção se quisermos compreender a amplitude do impacto da pesquisa.
Operação, Projeto e Disciplina
O que mensurar? Essa é uma pergunta importante de se fazer e que comumente não é tão bem respondida logo no início, levando equipes a perderem tempo ou a se confundirem nesse processo. Existem três ambientes que podem (e devem) ser constantemente analisados quando o objetivo é saber se a Pesquisa de Experiência está funcionando em harmonia: operação, projetos e disciplina.
Uma coisa está conectada à outra, é claro, mas entender que elas estão em caixas diferentes é um primeiro passo essencial para continuarmos a conversa. É como se as três caixas estivessem dentro de uma caixa maior, chamada de “Pesquisa”.
Operações: A caixa da operação nada mais é do que o ambiente de ResearchOps (Operações de Pesquisa), onde acontece a organização e suporte ao trabalho de pesquisa. Inclui processos, ferramentas, repositórios, treinamento, recrutamento de participantes e padronização de práticas. É quando profissionais atuam “nos bastidores”, garantindo que pesquisadores, designers e PMs tenham condições de executar pesquisas de forma eficiente e escalável.
Projetos: Esta é a caixa dos projetos de pesquisa em si, com início, meio e fim, focados em resolver problemas específicos, gerar insights ou testar hipóteses. Um projeto pode resultar em aumento de conversão, novas ideias para experimentos, aproximação entre usuários e stakeholders, ou economia de recursos. O impacto de um projeto pode ser acompanhado por métricas específicas, como aumento de receita, satisfação do usuário ou redução de churn.
Disciplina: A terceira caixa é a da disciplina de pesquisa como um todo dentro da organização, incluindo a estruturação do time, processos, cultura, governança e integração com outras áreas. Em grandes empresas, pode envolver a criação de centros de excelência, comunidades de prática e sistemas de governança para garantir a qualidade e o alinhamento das pesquisas. Em algumas realidades, também a caixa da disciplina pode ser a mesma da caixa de Operações.
Quais as maneiras de mensurar?
Uma vez que entendemos que falar de operações de pesquisa não é exatamente a mesma coisa que falar de projetos de pesquisa, vamos avançar. Existem tantas interpretações e aplicações do verbo “medir” ou “mensurar” que vale a pena colocar um pouco de luz para sabermos quais caixas vamos abrir e conectar ao que precisamos. Por isso, falar de métricas também pode não ser a mesma coisa que falar de impacto em alguns contextos, isso sem trazer o famoso ROI para a discussão.
Métricas
A caixa de métricas contém indicadores usados para acompanhar o andamento de iniciativas e seus respectivos resultados. Alguns exemplos são:
Aumento de receita
Economia de recursos
Mudanças em processos
Melhoria na satisfação dos usuários
Número de estudos realizados por trimestre
NPS interno
Frequência de uso do repositório
Facilidade de acesso aos relatórios
Feedbacks dos stakeholders
Entre outros.
Impacto
A caixa do impacto vem com uma provocação maior: quais foram as mudanças provocadas pela pesquisa, seja no produto, no negócio ou na experiência do usuário? Ele pode ser mensurado por resultados menos quantificáveis e mais conceituais, como:
Mudança em projeto ou produto já existente
Mudança em iniciativa em execução
Definição de estratégia de produto ou negócio
Aumento de contato de stakeholders com usuários
Estímulo de novos experimentos ou pesquisas
Estímulo de colaboração entre times
Desenvolvimento do sistema de pesquisa na empresa
Em outras palavras: o que não existia (ou não era possível) antes da pesquisa e agora existe (ou se tornou possível) depois dela?
Se quiser começar nesse desafio com uma ajuda, criei um modelo de planilha e formulário, baseado em um outro conteúdo que abriu muito minha cabeça (referenciado no template).
Return on Investment (ROI)
Nesta caixa, está a relação entre o investimento feito em pesquisa e o retorno financeiro ou estratégico gerado por esse investimento. O ROI pode ser difícil de calcular diretamente, pois nem todo impacto de pesquisa é imediatamente mensurável em dinheiro, mas pode ser estimado a partir de métricas e impactos observados.
Mensurar é conectar as peças certas
Agora sabemos que existem três caixas para saber o que mensurar: Operações, Projetos e Disciplina. Também vimos as outras três que nos ajudam a entender quais os caminhos possíveis: Métricas, Impacto e ROI. A mágica disso tudo é que é possível conectá-las.
Pode ser que faça sentido na sua equipe mensurar métricas de projetos de pesquisa e também o impacto de projetos de pesquisa. Em outra empresa, podem existir métricas de operações de pesquisa, por exemplo. Não tem certo e errado, apesar de algumas combinações serem mais populares, mas é você quem decide o que vai precisar para evidenciar as suas conquistas e da sua equipe.
A missão aqui era deixar claro: por mais que todos os caminhos nos levem a Roma (queremos ser mais reconhecidos e garantir mais investimentos para nossas equipes), precisamos entender as diferentes maneiras que temos de percorrê-los.
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Pedro Vargas é Pesquisador, Designer e Professor brasileiro. Criador de conteúdo para milhares de profissionais, é cofundador da Observe, a primeira comunidade sobre Pesquisa de Experiência no Brasil e tem a carreira voltada para a gestão de pessoas e projetos estratégicos de inovação. É formado em Secretariado Executivo Trilíngue pela UFV, com especialização em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM e certificado em UX pela Nielsen Norman Group, com ênfase em UX Management. Ensina e aprende sobre ResearchOps no MBA em UX Research, Operações de Pesquisa e Liderança em Design na UNIFATEC, em parceria com a Toronto School of Management. Tem passagens por startups e também por iniciativas pró-empreendedorismo jovem, chegando a representar o Brasil em organização apoiada pela Comissão Europeia na Bélgica.
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