21 de mai. de 2025

Todo mundo usa. Poucos entendem.

A base invisível das interfaces: a importância de dominar os fundamentos tipográficos.

Existe uma armadilha silenciosa na trajetória de quem trabalha com UX: à medida que o mercado amadurece, cresce também a exigência por domínio de processos, métricas, ferramentas e frameworks. Mas, no meio desse caminho, muitas vezes algo essencial é deixado de lado: o Visual Design.

Tem se tornado comum no mercado encontrar designers que atuam com excelência em discovery, pesquisa ou estratégia, mas que travam ao tentar criar uma interface. E tudo bem — algumas pessoas realmente não se interessam por essa parte. Entretanto, o que me chama atenção são aquelas que evitam a prática por medo. Isso porque acreditam que UI é coisa de quem “nasceu com dom” ou tem um talento artístico especial, e que jamais conseguirão chegar a um resultado visual agradável e profissional. E o que acontece é que estes profissionais ficam travados, evitam se desenvolver nesta área e perdem boas oportunidades.

Ao longo da minha carreira, vi profissionais extremamente qualificados ficarem inseguros na hora de traduzir suas ideias em interfaces. Pessoas que sabiam conduzir uma discovery do começo ao fim, que mapeavam jornadas com clareza e que organizavam estruturas complexas com bastante facilidade, mas que ficavam paralisadas em um espaço em branco no Figma.

A verdade é: não precisa ser assim.

Visual Design é técnica. É fundamento. É sobre intenção e treino. Uma vez alguém me disse que o processo é 1% inspiração e 99% transpiração. É sobre refinar o trabalho, tomando decisões conscientes sobre cada ajuste no layout. 

O problema está na base

Aqui entra uma armadilha invisível: hoje temos muitos recursos prontos, como Design Systems, componentes e tokens de design. Mas, ainda assim, o problema persiste. Isso acontece porque ele não está nos recursos disponíveis, mas na atuação e na forma que as pessoas utilizam. O problema está na base. 

Muita gente sabe usar o que está pronto, mas não entende por que as coisas foram construídas daquele jeito. Acaba aplicando sem intenção, sem questionar, sem entender o porquê. E talvez nada seja tão fundamental — e tão ignorado — quanto a tipografia. 

Tipografia é comunicação

Muita gente negligencia a tipografia. Acha que basta escolher uma fonte “bonita”. Mas tipografia não é sobre beleza. É sobre comunicação. É sobre tornar o conteúdo acessível, escaneável, leve de ler. É sobre ritmo, espaçamento, contraste, hierarquia. E, principalmente, sobre respeito pelo usuário.

É por isso que o livro do Willian Matiola é importante. Porque ele entrega o que faltava: um ponto de partida sólido, direto e prático para quem quer entender como as fontes se comportam, como se comunicam e como afetam diretamente a experiência de uso. 

Mesmo que, onde você trabalhe, já exista um Design System super amarrado, entender os princípios tipográficos vai ajudar a tirar mais desse sistema. Vai te dar autonomia para saber quando manter, quando adaptar, quando propor uma solução melhor, afinal, são as microdecisões do layout — espaçamentos, hierarquias, alinhamentos — que determinam se uma interface parece profissional ou amadora. E olha que já vi muito profissional construir interface ruim usando Design System pronto. Novamente, isso acontece porque faltam os princípios e os fundamentos. 

E isso vale para quem trabalha com UX e UI, mas também para quem está no marketing ou no Design Gráfico. 

É impressionante o quanto essas escolhas “visuais” têm poder de comunicação. Elas dizem muito sobre o cuidado com o detalhe, sobre a maturidade do time, sobre o posicionamento da marca. E dizem, principalmente, se alguém está pensando na experiência da outra pessoa com aquele conteúdo.

Tipografia & Interface

Nas páginas do livro você encontrará clareza e didática. Matiola traduziu anos de prática em um material que vai direto ao ponto. Sem pedantismo e sem academicismo desnecessário.

É sobre criar repertório, desenvolver sensibilidade e aprender a fazer escolhas com mais consciência. Ele vai te ajudar a entender o porquê das decisões visuais envolvendo tipografia e, por consequência, criar experiências melhores para quem vai usar o que você está construindo. 

Parabéns por tomar frente nessa leitura e por estar buscando seu desenvolvimento em Visual Design. 

Aproveite!

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Prefácio escrito por Victor Zanini para o livro Tipografia & Interface, de Willian Matiola (Editora Brauer).

Publicado em:

Zanini é um escritor e líder em Design. Autor dos livros “Designer & Líder” e “Além do Design“, tem uma carreira voltada para a gestão de pessoas e organizações de Design. Formado em Psicologia com pós-graduações em Design e Gestão de Negócios. É professor das disciplinas de Design Ops, Design System e Liderança na PUC Minas em 2023, idealizou e, em parceria com João Paulo, fundou a Editora Brauer.

Livros de Design que amplificam e potencializam a voz do Design brasileiro.

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