30 de abr. de 2025
David Arty falando a real sobre Design
David compartilha sua visão sobre a evolução do Design de Produtos Digitais, os erros mais comuns de quem está começando, a importância do raciocínio estratégico e o papel da inteligência emocional na carreira.
Na continuação da nossa série Falando a real sobre Design, convidamos David Arty — designer, educador e criador do Chief of Design — para compartilhar suas percepções sobre a prática do Design de Produtos Digitais no Brasil.
Com uma trajetória que conecta mercado, ensino e comunidade, David fala abertamente sobre a construção de carreira, os riscos da superficialidade no design, o impacto da IA e o papel da disciplina como agente transformador. Mais do que tendências, ele destaca posturas, aprendizados e convicções de quem vive o design com propósito há mais de uma década.
Boa leitura!
— Gabriel Pinheiro
Falando a real sobre Design
O que mais me fascina no design é a capacidade de unir ciência e arte, de transformar ideias complexas em algo simples, intuitivo e impactante para o cotidiano das pessoas. Acho incrível como o design é a conexão do racional com o intuitivo, que une criatividade, estratégia e empatia para resolver problemas e criar experiências que realmente fazem a diferença na vida das pessoas.

1. Como você enxerga o papel do Design de Produtos Digitais nas empresas brasileiras?
D: O design de produtos digitais no Brasil está ganhando cada vez mais espaço, mas ainda está em processo de amadurecimento na maioria das empresas. Vejo que, em geral, as empresas começaram a perceber que o design não é apenas um "acabamento visual," mas sim uma peça estratégica que pode aumentar resultados, engajamento e gerar inovação.
2. Qual é o valor que o Design entrega e qual impacto pode gerar através do trabalho de um designer de produtos digitais?
D: O design entrega valor ao alinhar as necessidades do usuário aos objetivos de negócio, criando soluções eficazes e acessíveis. O impacto de um bom design pode ser sentido em diversos níveis: desde melhorar a retenção de clientes até revolucionar a forma como interagimos com a tecnologia e mais: inclusive em casos onde o valor não podemos tabular em dados. Como podemos medir, por exemplo, as experiências das pessoas ao abrir a caixa de Iphone, como vemos em vídeos do Tiktok. Apesar de não mensurável, o design pode, e normalmente o faz, impactar também na cultura, na história e nas relações sociais.
3. Quais são os principais desafios para quem busca trabalhar com Design hoje?
D: Hoje, o maior desafio está no volume de habilidades que o mercado exige. É preciso equilibrar especialização com um certo nível de conhecimento generalista, além de lidar com a rápida evolução tecnológica. A competitividade também aumentou, então o diferencial não está só nas habilidades técnicas, mas também na capacidade de colaborar, comunicar e se adaptar. Portanto, o principal desafio está na inteligência emocional e software skills.
4. No seu contexto, quais são os principais desafios que você enfrenta atualmente?
D: No meu caso, o maior desafio é equilibrar o ensino de design com a prática de mercado, além de entender como priorizar conteúdos e projetos que sejam realmente relevantes para o meu crescimento e que contribuam com a comunidade. Gosto muito da citação de são São Beda que diz:
Há três caminhos para o fracasso: não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina, e não perguntar o que se ignora.
Também lido com a constante necessidade de aprender novas ferramentas e metodologias para me manter atualizado.
5. Como é um dia típico de trabalho para designers? O que você faz e onde costuma concentrar mais energia?
D: Um dia típico envolve atividades como pesquisa, ideação, wireframes, prototipação e colaboração com times de desenvolvimento e stakeholders. No meu caso em específico, divido a energia também com a parte de criação de aulas e conteúdos educacionais. No meu caso do trabalho, vejo que a maior energia vai para entender as necessidades do usuário e traduzir isso em boas interfaces e também em gerenciar as pessoas que trabalham sobre a minha direção.
6. Designers devem se preocupar com outras disciplinas estudando sobre Design? Existe o risco de generalização do Design de Produtos Digitais?
D: Não acho que seja motivo para preocupação. Design é, por natureza, interdisciplinar, e a troca de conhecimento com outras áreas pode ser enriquecedora. O risco de generalização existe se perdermos a essência do design — que vai além de ferramentas e abrange empatia, pensamento crítico, uma abordagem centrada no usuário e o primor no acabamento.

1. O que é mais importante saber para quem está começando? Há algo que você gostaria de ter aprendido antes de entrar na área?
D: Para quem está começando, o mais importante é ter clareza de que design é sobre resolver problemas e lidar com pessoas é algo intrínseco, seja para ser a ponte facilitadora, seja pra ouvir os problemas e providenciar soluções. Gostaria de ter entendido mais cedo a importância do UX Research e como ele guia todo o processo de design e ter a consciência que estudar inglês é essencial na área.
2. Na sua visão, existe alguma disciplina por onde faça mais sentido começar?
D: Sim, UI Design é um ótimo ponto de partida porque é mais tangível e visual, o que facilita o aprendizado inicial. Depois disso, o ideal é aprofundar em UX Research e estratégia de design para ter uma visão mais completa.
3. O que você acredita que designers de produtos digitais iniciantes não podem deixar de aprender?
D: Os fundamentos de design visual, princípios de usabilidade, UX Research, arquitetura da informação e a habilidade de prototipar ideias. Além disso, comunicação é essencial para saber apresentar ideias, isso é tão importante quanto criá-las.
4. Quais são os principais erros e acertos que você percebe em pessoas que estão entrando ou migrando para a área?
D: Os erros mais comuns são: pular etapas importantes do processo, não ouvir feedback e focar apenas em ferramentas. Os acertos incluem investir em networking, construir um portfólio estratégico, sem abdicar da estética e refinamento, e buscar sempre aprender com projetos reais.
5. E para quem busca evoluir na carreira, quais erros você entende que devem ser evitados?
D: Focar apenas no aspecto técnico sem desenvolver soft skills. Designers mais experientes precisam saber lidar com pessoas, defender ideias, criar pontes e liderar projetos. Além disso, se acomodar com o que já sabe é um erro comum. Aprendizado contínuo é essencial.
6. Na sua visão, quais características técnicas diferenciam um designer Júnior, Pleno e Sênior?
D: Júnior: Tem boa execução técnica, mas ainda depende de orientação e aprimoramento nas softskils.
Pleno: Consegue trabalhar de forma autônoma, tem a parte técnica aprimorada e contribui para decisões de design.
Sênior: Atua como líder e mentor, mesmo que não tenha cargo de liderança, influencia estrategicamente projetos e orienta outros designers.
7. Como você enxerga a trajetória até alcançar o nível Sênior em Design de Produtos Digitais?
D: Alcançar o nível sênior exige experiência prática, consistência, construção de repertório e a capacidade de pensar além do operacional. Não existe Senior de 30 dias. É importante dominar não apenas ferramentas, mas ter uma visão holística, um olhar atento aos detalhes e dominar o “pensar design”, que une os itens anteriores com raciocínio estratégico.
8. Como você escolhe quais temas estudar? Baseia-se nas demandas do mercado, nas tendências, nas capacidades tecnológicas ou em outros fatores?
D: É uma combinação de tendências de mercado, demandas tecnológicas, feedbacks reais de projetos e identificação dos meus pontos fracos. Também gosto de observar movimentos que acontecem pelo mundo e na área para identificar o que está ganhando relevância.

1. Qual dica você daria sobre portfólio para quem está começando? Quais critérios ajudam a estruturar um portfólio efetivo e quais atributos não podem faltar?
D: Foque em qualidade, não quantidade. Apresente projetos que demonstrem seu raciocínio de design, desde o problema até a solução. Crie um storytelling com começo, meio e fim. Clareza no pensamento, demonstração de capacidade técnica e primor visual são atributos que nunca podem faltar.
2. Como desenvolver conhecimento em Design por meio de cases fictícios? E, na sua opinião, de que forma eles ajudam na busca por vagas?
D: Sim, cases fictícios ajudam bastante, especialmente para quem está começando. O importante é tratar esses cases com seriedade, simulando processos reais de pesquisa e validação. Nada supera a prova, se a pessoa consegue provar sua capacidade como designer, o projeto ser fictício acaba perdendo relevância, pois o mais importante sempre será a qualidade. E evite os exemplos manjados como “redesign do Spotify”, “Novo Layout do Nubank”.
3. Como você acredita que um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) pode ser estruturado para proporcionar um desenvolvimento concreto?
D: Um PDI deve partir de objetivos claros, identificar lacunas de aprendizado e definir metas específicas e alcançáveis. O ideal é dividir em pequenos passos para não criar expectativas irreais e poder conseguir ver o progresso evolutivo, celebrando as pequenas vitórias. O acompanhamento constante também é fundamental, não é algo a se fazer e deixar de lado.
4. Pensando em quem está em busca de novas oportunidades, como mostrar conquistas e resultados ao pleitear novas posições?
D: Falar o que estou fazendo e apresentar enfatizando os resultados. Eu destaco resultados concretos de projetos, como métricas de impacto, e sempre foco em apresentar meu processo de pensamento e colaboração, sem desprestigiar os objetivos do negócio em prol do design, pelo contrário, trazendo-os para ser uma das bases do projeto.

1. Como você gostaria que fosse o futuro do Design? E o que seria necessário para que esse futuro se concretize?
D: Gostaria de ver um futuro onde o design seja mais acessível, inclusivo, menos elitista e que seja valorizado como peça estratégica em qualquer setor, como um disciplina única e crucial e não como uma matéria associada a outra disciplina, colocada em segundo plano ou como trivial. Para isso, precisamos continuar educando empresas e profissionais sobre o real impacto do design, apresentando o nosso trabalho e valor.
2. Quais oportunidades você enxerga para a evolução da nossa disciplina de Design de Produtos Digitais?
D: A acessibilidade e o design ético são grandes oportunidades. Com o avanço da tecnologia, temos um campo enorme para criar experiências mais inclusivas e responsáveis.
3. Como você acredita que a Inteligência Artificial vai impactar o trabalho em Design?
D: Acredito que a AI vai automatizar tarefas repetitivas, permitindo que designers foquem mais em estratégia e criatividade. No entanto, será crucial aprender a trabalhar em colaboração com essas ferramentas. E vale a máxima: Se não quer ser substituído por uma IA, comece a utilizar sua inteligência natural. Não seja refém de ferramentas e vá além do operacional.
4. Como você vê a próxima geração de designers de produtos digitais?
D: Vejo uma geração mais interdisciplinar, que entende tecnologia, negócios e, ao mesmo tempo, mantém uma abordagem centrada nas pessoas. A próxima geração será a ponte entre inovação e empatia.Nesse momento me preocupa certo movimentos ignorantes e discussões que beiram a burrice. Mesmo assim, tenho confiança de que os designers que estão surgindo farão um ótimo trabalho, promovendo a evolução da área.
Sobre a David
Designer, Empreendedor e entusiasta de tecnologia e comunicação. Atua como professor de design, consultor, palestrante e Product Designer independente, integrando o design ao mundo corporativo para transformar ideias complexas em soluções visuais simples, atraentes e funcionais.
No mercado desde 2009, passou por diversas agências, empresas de tecnologia e marketing digital. Possui formação técnica em Multimídia, graduação em Design Gráfico e pós-graduação em UX Design.
É o criador do Chief of Design, um ecossistema educacional que já formou milhares de alunos em todo o Brasil. Já ministrou aulas e workshops em instituições como SENAC, PM3, Ebac, Rocketseat, ESPM e Digital House.
Apaixonado por educação, comunicação e design, acredita que a área pode ser a propulsora para a criação de produtos que impactam de forma positiva a vida das pessoas e que geram novas oportunidades, ao integrar o design pensado no usuário ao mundo corporativo.
Nas redes sociais, está presente como @chiefofdesign, acumulando mais de 200 mil seguidores no Instagram, YouTube, Linkedin e TikTok.
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Gabriel é estrategista, autor e palestrante. Publicou livros sobre design estratégico, já palestrou na UX Conf e em empresas como Itaú, Boticário, Magazine Luiza, Ifood e Livelo. Formado em design de produto, é sócio da PunkMetrics e já trabalhou em empresas como Wine.com.br, Autoglass, SKY, Handmade e Thoughtworks. Além de ajudar no desenvolvimento de outros designers, é especialista em temáticas como estratégia, ecossistemas, inovação e educação.
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