17 de set. de 2025

Jane Vita falando a real sobre Design

O que sustenta o design em tempos de mudança? Jane Vita responde

Na sequência da série Falando a real sobre Design, conversamos com Jane Vita: designer com mais de duas décadas de experiência em inovação, estratégia e design de serviços em diferentes culturas, setores e tecnologias.

Com uma trajetória que passa por Fjord, Nokia, Porto Seguro, BMW, Skype e hoje na Metso, Jane compartilha sua visão sobre a evolução da disciplina, os desafios da formação profissional, as oportunidades que surgem com a IA e as raízes que sustentam o design como prática crítica, colaborativa e transformadora.

Uma conversa profunda com quem vive o design de forma sistêmica e comprometida com o futuro.

Boa leitura!
— Gabriel Pinheiro


Falando a real sobre Design

Eu sou Jane Vita, uma profissional apaixonada por Design, atualmente focada no design de serviços e inovação. Com mais de 25 anos de atuação em setores diversos, culturas e competências do Design. 

Os pontos que acho mais interessante e legal no design são a capacidade de criar soluções sustentáveis e inovadoras, a importância do pensamento sistêmico e colaborativo, e a valorização da diversidade e aprendizado contínuo.

Por exemplo, eu tenho um forte foco em programas de inovação. Durante meu tempo na Zurich Group Insurances, liderei a criação e a coordenação de um program voltado para a criação de opções sustentáveis alinhadas ao portfolio de serviços. Incluindo, ferramentas e diretrizes que incentivam os clientes a adotarem um estilo de vida mais sustentável.

Na minha posição atual na Metso, promovo abordagens de design e pensamento sistêmico para criar serviços com pensamento no longo-prazo, mas que são executados em transições de sucesso. Lidero sessões colaborativas para gerar ideias e co-criar soluções viáveis e desejáveis, sempre com foco na perspectiva do cliente e nos desafios de negócios.

Trabalhei em diversos países e em projetos de diferentes indústrias, o que me proporcionou uma visão ampla e diversificada do design. Valorizo o trabalho em equipe, especialmente em equipes multidisciplinares e multiculturais, que enriquecem o trabalho diário e oferecem novas perspectivas.

Além da minha experiência prática, também me dedico à educação e mentoria. Lecionei em várias universidades, incluindo a Aalto University e a Laurea University of Applied Sciences, e participei de diversos workshops e conferências, compartilhando meu conhecimento e experiência com a próxima geração de designers.

Tenho uma forte ligação com a inovação tecnológica, tendo trabalhado em projetos que envolvem tecnologias emergentes e design de serviços digitais. Também tenho experiência em liderar equipes de design em projetos de aprendizado de máquina e outras tecnologias avançadas.

Meus trabalhos incluem marcas como: Volvo, BMW, Marcopolo, Samsung, Microsoft, Nokia, Swarovski, Lojas Renner, Positivo Informatica, Banco do Brasil, TvE, Zurich Insurances, VTT, NSN, Renault, Ericsson, Bematech, Gol Linhas Aéreas, Porto Seguro, Nokian Tyres, Honka, Iittala, Skype, Stockmann, Viking Line, Safmarine, Pacific Blue Cross, OP, Rovio, Fira, YIT, Fennia, Fortum, Finning, Posti, ABB and Metso.

1. Como você enxerga o papel do Design de Produtos Digitais nas empresas brasileiras?

J: O design de produtos digitais desempenha um papel vital na formação da visão estratégica das empresas no Brasil e no mundo. Ele impacta diretamente as operações internas, ao mesmo tempo em que melhora a forma como as empresas se envolvem com clientes e mercados. À medida que a tecnologia continua a evoluir e as expectativas do consumidor aumentam, essa tendência está pronta para um crescimento ainda maior.

No Brasil, há um investimento notável em ecossistemas de tecnologia, particularmente em centros vibrantes como São Paulo, Florianópolis e Belo Horizonte. Startups nessas áreas estão priorizando o design de produtos digitais para impulsionar a inovação e modernizar indústrias tradicionais.

A influência da globalização também é notável, à medida que as empresas brasileiras se envolvem cada vez mais com o mercado global, onde o design de produtos digitais de alta qualidade é um padrão fundamental. Ao investir em design, essas empresas podem aumentar sua vantagem competitiva em escala internacional.

A transformação digital em andamento em muitas organizações exemplifica o papel significativo do design. Essa transformação exige o desenvolvimento de produtos digitais robustos que atendam às necessidades atuais do usuário e se alinhem aos objetivos de negócios, levando a uma demanda maior por interfaces e experiências digitais bem elaboradas. Esses investimentos não apenas melhoram a percepção da marca, mas também criam uma vantagem competitiva distinta.

Com o surgimento dos smartphones e maior acessibilidade à internet, os consumidores brasileiros estão buscando experiências on-line intuitivas, contínuas e envolventes. Em resposta, as empresas estão se concentrando no design de produtos digitais centrado no usuário para aumentar a satisfação e a fidelidade do cliente.

Além disso, o design pode contribuir substancialmente para um futuro mais sustentável ao integrar práticas como a economia circular, utilizar materiais ecológicos e adotar o minimalismo consciente. Essas abordagens podem mitigar o impacto ambiental de marcas e produtos e promover uma cultura de responsabilidade ambiental e inovação. No Brasil, essas práticas sustentáveis ​​estão ganhando força e sendo aplicadas criativamente em vários setores.

2. Qual é o valor que o Design entrega e qual impacto pode gerar através do trabalho de um designer de produtos digitais?

J: O design ocupa um espaço vital no cenário de entrega de valor, servindo como pedra angular para criar soluções que equilibram o apelo estético com funcionalidades essenciais. Ao abordar o design, é fundamental considerar não apenas a aparência de um produto, mas também como ele opera e interage com usuários potenciais. 

Elementos como experiência do usuário, inclusão e o impacto mais amplo das decisões de design são cruciais. Um foco abrangente nesses aspectos permite que o design cultive marcas robustas, melhore o engajamento do usuário e impulsione avanços em eficiências operacionais, bem como responsabilidades sociais e ambientais.

O design de qualidade distingue uma empresa em um mercado competitivo. Ele melhora a percepção da marca, potencialmente levando a uma maior lealdade entre os consumidores e uma participação de mercado mais significativa. 

Soluções cuidadosamente elaboradas são mais do que visualmente agradáveis; elas podem agilizar processos internos identificando pontos problemáticos e promovendo a colaboração entre os membros da equipe. Isso, por sua vez, aumenta a produtividade da equipe e cria um ambiente de trabalho mais coeso.

O papel de um designer de produto digital se estende por vários setores, geralmente caracterizados por abordagens baseadas em metodologias ágeis e iterativas. Esta estrutura suporta inovação contínua permitindo que designers e organizações refinem continuamente seus produtos em resposta ao feedback do usuário, tendências de mercado e avanços tecnológicos. Adotar esses métodos cria confiança nos processos de tomada de decisão e capacita as organizações a permanecerem ágeis e responsivas às demandas em constante evolução do mercado, sem perder o foco nos futuros possíveis.

Além disso, a integração de princípios de design sustentável é cada vez mais essencial na economia atual. Ao priorizar práticas ecologicamente corretas, as empresas não apenas mitigam o impacto ambiental de seus produtos, mas também reforçam seu compromisso com a responsabilidade social e se mantem atuais no mercado. 

O design sustentável abrange uma série de estratégias, desde a seleção de materiais que minimizam as pegadas ecológicas até a criação de produtos que são destinados à longevidade e reutilização. Este compromisso não apenas atrai consumidores ambientalmente conscientes, mas também contribui para um futuro mais sustentável, posicionando as empresas como líderes em inovação responsável.

3. Quais são os principais desafios para quem busca trabalhar com Design hoje?

J: Hoje, profissionais que buscam carreiras em design têm que superar vários desafios. Infelizmente uma realidade para muitas profissões que atuam nos meios digitais. 

Começando por manter-se atualizado com novas ferramentas, tecnologias e tendências, embora a natureza acelerada do setor possa ser assustadora, também abre as portas para aprendizado e crescimento contínuos. O cenário competitivo do mercado de design incentiva os profissionais a mostrar suas habilidades e perspectivas únicas, permitindo que eles se diferenciam e atraiam projetos ou oportunidades de trabalho interessantes.

À medida que o setor evolui, há uma oportunidade de defender o valor do design e educar os clientes sobre sua importância, ajudando a combater a subvalorização do trabalho dos designers. Ao enfatizar os benefícios de soluções de design de qualidade, os designers podem se posicionar como parceiros valiosos em vez de apenas provedores de serviços. Tarefa que não é fácil e exige boa comunicação e paciência. 

Equilibrar a inovação com as necessidades práticas dos clientes pode promover a criatividade e a desenvoltura, permitindo que os designers produzam um trabalho excepcional enquanto trabalham dentro de restrições. Cumprir prazos mantendo a qualidade pode aprimorar as habilidades de gerenciamento de tempo, e fazer malabarismos com vários projetos pode levar a uma maior eficiência. Além disso, melhorar as habilidades de negociação pode capacitar os designers a garantir contratos e condições de trabalho favoráveis, abrindo caminho para acordos justos.

Por fim, abraçar novas formas de trabalho remoto e híbrido apresenta uma excelente oportunidade para desenvolver habilidades aprimoradas de colaboração e comunicação, que são essenciais no mundo interconectado de hoje. Porém nem todos se adaptam a este estilo de trabalho.

4. Como é um dia típico de trabalho para designers? O que você faz e onde costuma concentrar mais energia?

J: Atualmente, atuo como Service Design Lead, onde minhas principais responsabilidades envolvem a liderança de projetos focados na melhoria da jornada do cliente. Entre as tarefas: a estreita colaboração com equipes multifuncionais para identificar pontos de dor e oportunidades de melhoria nos serviços oferecidos. Eu utilizo metodologias de service design e design thinking e ferramentas de mapeamento de jornada para criar soluções inovadoras que atendam às necessidades dos clientes e superem suas expectativas.

Além disso, sou responsável por garantir que todas as iniciativas de design de serviço estejam alinhadas com os objetivos estratégicos da empresa. Isso inclui a administração das jornadas do cliente, a facilitação de workshops, a condução de pesquisas com clientes e operacional e a análise de dados para informar decisões de design e desenvolvimento estratégico. Meu papel também envolve a mentoria e o desenvolvimento de membros da equipe, promovendo customer centricity, uma cultura de colaboração e inovação contínua. 

5. Designers devem se preocupar com outras disciplinas estudando sobre Design? Existe o risco de generalização do Design de Produtos Digitais?

J: É natural que designers se perguntem sobre o impacto de outras disciplinas, especialmente no contexto de produtos digitais e atuais aplicações da IA. Abraçar essa interdisciplinaridade abre um mundo de oportunidades, transformando ameaças potenciais em caminhos poderosos para a criatividade.

Quando profissionais de áreas como marketing, engenharia ou negócios se envolvem com design, eles enriquecem o processo criativo, infundindo-o com novas perspectivas e habilidades diversas que levam a soluções inovadoras e eficazes. A colaboração entre disciplinas não apenas melhora a comunicação, mas também inspira a implementação de ideias com maior potencial de sucesso.

À medida que o design ganha mais atenção em outros campos, sua importância dentro das organizações cresce. Uma compreensão e apreciação mais profundas do design entre colegas amplifica sua integração em estratégias de desenvolvimento de negócios e produtos, resultando em experiências de usuário positivas e significativas.

No entanto, devemos permanecer vigilantes contra o risco de generalização, onde a essência do design pode ser simplificada demais ou mal compreendida. A educação contínua e a promoção de melhores práticas capacitam os designers a manter a profundidade e a complexidade de seu ofício, garantindo sua aplicação apropriada e eficaz, de qualidade.


Sobre desenvolvimento

1. O que é mais importante saber para quem está começando? Há algo que você gostaria de ter aprendido antes de entrar na área?

J: Eu recomendo que, antes de se aprofundar em ferramentas e técnicas avançadas, qualquer pessoa deve primeiro entender os princípios básicos do design, como teoria das cores, formas, tipografia, composição, usabilidade, semântica, ética e até mesmo alguns princípios de comunicação efetiva, etnografia e psicologia comportamental. Esses fundamentos são a base para qualquer bom design e permanecem constantes, ao contrário das ferramentas, que podem se tornar obsoletas com o tempo.

O design é, acima de tudo, sobre pessoas, sobre interações. Desenvolver a habilidade de entender e genuinamente as pessoas é essencial para criar soluções que realmente atendam às suas necessidades.

Outro aspecto é o aprendizado continuado e flexibilidade para se adaptar. O campo do design está em constante evolução.É importante se manter atualizado com as últimas tendências, ferramentas e metodologias. A capacidade de aprender e se adaptar rapidamente é uma vantagem significativa.

2. Na sua visão, existe alguma disciplina por onde faça mais sentido começar?

J: Difícil dizer, mas minha resposta é bem parecida com a anterior.

3. O que você acredita que designers de produtos digitais iniciantes não podem deixar de aprender?

J: Para novos designers de produtos digitais, compreender os princípios fundamentais do design é essencial. É importante que eles mergulhem em áreas como teoria das cores, tipografia, composição e usabilidade, pois esses elementos formam a base do design eficaz e contribuem para a criação de interfaces intuitivas e agradáveis.

Adotar uma abordagem centrada no usuário é igualmente crucial. Conduzir pesquisas completas, elaborar personas detalhadas, mapear jornadas do usuário e testar protótipos com usuários reais garantirá que as soluções estejam alinhadas às necessidades das pessoas.

Tornar-se proficiente com as principais ferramentas de design de interface, como o Figma, pode melhorar significativamente as habilidades de prototipagem e promover a colaboração dentro de uma equipe. 

Além disso, entender metodologias ágeis, como Scrum e Kanban, ajudará o designer a integrar o design perfeitamente ao ciclo de desenvolvimento.

Priorizar a inclusão, aprendendo diretrizes de acessibilidade, é um aspecto fundamental da responsabilidade como designer, garantindo que seus produtos atendam a todos os usuários.

Cultivar o pensamento crítico e as habilidades de resolução de problemas capacitará o designer a navegar por desafios complexos e desenvolver soluções inovadoras. 

Comunicação e colaboração eficazes são cruciais, dado que o design é inerentemente um esforço de equipe. Articular escolhas de design e estar aberto a feedback construtivo são componentes essenciais para o crescimento e sucesso. 

Por fim, manter-se atualizado com as últimas tendências, tecnologias e melhores práticas garantirá que o designer permaneça relevante e inspirado em sua prática de design.

4. Quais são os principais erros e acertos que você percebe em pessoas que estão entrando ou migrando para a área?

J: O maior erro é não se aprofundar em fundamentos básicos do Design e não investir tempo na criação de um portfólio, mesmo que com exemplos fictícios. 

5. E para quem busca evoluir na carreira, quais erros você entende que devem ser evitados?

J: Esquecer os princípios básicos do design e não se importar com a qualidade de entrega estão no topo da lista, além disso não se atualizar, não acompanhar as últimas tendências, ferramentas e melhores práticas pode fazer com que habilidades se tornem obsoletas. Investir em aprendizado contínuo e estar sempre aberto a novas ideias e tecnologias é uma necessidade para acompanhar a rápida evolução do mercado e tecnologias.

Adicionalmente, a comunicação eficaz é fundamental; saber apresentar e justificar suas decisões de design para stakeholders e colegas de equipe pode fazer toda a diferença.

Receber e dar feedback construtivo é vital para o crescimento profissional. Encarar o feedback como uma oportunidade de aprendizado e melhoria é crucial. 

A colaboração também é chave; trabalhar isoladamente pode resultar em soluções que não atendem às necessidades reais dos usuários ou do negócio. Envolver outras disciplinas no processo de design para obter melhores resultados é necessário para o sucesso do designer e das soluções. 

Priorizar a experiência do usuário e garantir que seus designs sejam acessíveis a todos é essencial. Não focar apenas na estética, mas também na usabilidade, pode evitar comprometer a eficácia do design final. Além disso, ter um plano de carreira claro e construir uma rede de contatos profissionais pode abrir portas para novas oportunidades e colaborações.

6. Na sua visão, quais características técnicas diferenciam um designer Júnior, Pleno e Sênior?

J: A exposição à complexidade, culturas, tipos de projeto, liderança são alguns dos fatores que diferenciam um designer júnior de um sênior e a transição de um designer júnior para um sênior envolve uma série de experiências e habilidades adquiridas ao longo do tempo. 

Designers seniores geralmente têm experiência em lidar com projetos mais complexos, que exigem uma compreensão profunda de múltiplas facetas do design, desde a pesquisa até a implementação. Eles são capazes de navegar por problemas complicados e encontrar soluções eficazes, enquanto designers juniores ainda estão desenvolvendo essa habilidade.

Exposição a diferentes culturas também é crucial. Trabalhar em projetos internacionais ou em equipes multiculturais ajuda a desenvolver uma sensibilidade cultural e uma compreensão mais ampla das necessidades e comportamentos dos usuários de diferentes origens. Isso é fundamental para criar designs inclusivos e eficazes em um contexto global.

A variedade de tipos de projeto é outro fator importante. Designers seniores geralmente têm um portfólio diversificado que inclui diferentes tipos de projetos, como aplicativos móveis, websites, sistemas complexos e experiências de usuário. Essa diversidade de experiências permite que eles adaptem suas habilidades a diferentes contextos e desafios.

Por fim, a liderança é uma característica significativa. Designers seniores não apenas executam tarefas de design, mas também lideram equipes, orientam designers juniores e colaboram com outras disciplinas. Eles têm habilidades de comunicação e gestão de projetos que lhes permitem coordenar esforços e garantir que os objetivos do projeto sejam alcançados de maneira eficaz.

7. Como você enxerga a trajetória até alcançar o nível Sênior em Design de Produtos Digitais?

J: Tornar-se um profissional sênior inclui muito mais do que a habilidade com as ferramentas digitais, embora isso seja muito importante para a entrega de qualidade. As ferramentas variam e tendem a ser melhoradas ou até podem se tornar obsoletas. Por exemplo, um designer sênior deve estar sempre atualizado com as últimas versões de softwares como Adobe Creative Suite e ferramentas de prototipagem como Figma, garantindo que os projetos sejam executados com precisão e eficiência.

A experiência adquirida com a exposição a trabalhos diversos é o que faz o designer ganhar a flexibilidade necessária para colaborar, influenciar e tomar decisões de maneira mais assertiva. Ao trabalhar em projetos de diferentes indústrias e complexidades, como branding, design de interface de usuário e campanhas publicitárias, o designer desenvolve uma visão holística que lhe permite adaptar-se a diferentes contextos e necessidades do cliente. Por exemplo, um designer que já trabalhou tanto em projetos de tecnologia quanto em projetos de marketing terá uma perspectiva mais ampla e será capaz de oferecer soluções criativas e eficazes em qualquer setor.

Depois de adquirir as competências para o gerenciamento de projetos, o designer pode passar a coordenar programas e até mesmo seguir uma carreira gerencial. Um exemplo disso é quando um designer assume a liderança de um projeto de redesign de um site, coordenando uma equipe de designers, desenvolvedores e estrategistas de conteúdo para garantir que o projeto seja concluído dentro do prazo e do orçamento. Com o tempo, esse profissional pode evoluir para posições como Diretor de Arte ou Gerente de Design, onde ele não apenas supervisiona projetos, mas também define a visão estratégica da empresa. Além disso, pode ser responsável por equipes de design, oferecendo suporte para o desenvolvimento de suas carreiras e ajudando a moldar futuros líderes na área.

8. Como você escolhe quais temas estudar? Baseia-se nas demandas do mercado, nas tendências, nas capacidades tecnológicas ou em outros fatores? 

J: Eu participo ativamente de encontros e canais de comunidades voltadas para o design, como o Service Design Network, Design Justice e a Interaction Design Association. Além disso, leio muitos livros, assisto a vídeos recomendados e participo de conferências.

Estou sempre investindo na minha formação. Atualmente, minha pesquisa de PhD envolve o entendimento do papel do designer no envolvimento e engajamento de pessoas no processo de inovação responsável e sustentável.

Dou aulas de Design desde 2003. Para ensinar, preciso aprender constantemente, e dizem que ensinar é a forma mais eficaz de aprendizado.

Além disso, há a demanda dos projetos, especialmente na fase de mapeamento e entendimento, onde é necessário fazer um bom estudo de mercado, incluindo tendências e impacto futuro.


Portfólio & Carreira

1. Qual dica você daria sobre portfólio para quem está começando? Quais critérios ajudam a estruturar um portfólio efetivo e quais atributos não podem faltar?

J: Apresentar um portfólio de design é essencial para conseguir um bom emprego na área. Para quem está começando, sugiro elaborar pelo menos três exemplos que sejam orientados para a vaga desejada. Esses exemplos podem incluir melhorias em serviços já existentes, inclusive da própria empresa. Cada exemplo deve conter poucas telas e uma breve descrição do processo de design, com no máximo três slides por projeto.

Se a vaga é mais de generalista, Inclua uma variedade de projetos que demonstrem suas habilidades em diferentes áreas do design, como UX/UI, design gráfico e design de interação.

Outras menções importantes, como lidou com feedback e fez iterações no design. Isso demonstra a capacidade de trabalhar em equipe e melhorar continuamente.

Sempre que possível, incluir métricas ou resultados que mostrem o impacto do trabalho, este um pouco mais difícil se o trabalho é fictício. Por exemplo, aumentos na taxa de conversão ou melhorias na experiência do usuário.

E é claro, é sempre importante se certificar que o portfólio seja visualmente atraente e fácil de navegar. Um bom design de portfólio reflete suas habilidades e atenção aos detalhes.

2. Como desenvolver conhecimento em Design por meio de cases fictícios? E, na sua opinião, de que forma eles ajudam na busca por vagas?

J: Desenvolver conhecimento em design através de cases fictícios pode ser uma excelente maneira de aprimorar habilidades e construir um portfólio atraente. Contudo, é importante identificar problemas reais que se gostaria de resolver. Inclua briefings, incluindo informações sobre o público-alvo, os objetivos do projeto e quaisquer restrições a serem consideradas. Realizar pesquisas para entender melhor o problema e o contexto, analisando soluções existentes e identificando pontos fortes e fracos, é essencial. O projeto pode ter um ponto de partida pessoal, mas pode sim solucionar problemas reais e atender necessidades reais.

Documentar todo o processo de design, desde a pesquisa inicial até a solução final, incluindo feedbacks recebidos e iterações feitas, é fundamental. Usar habilidades de design para criar soluções inovadoras, fazendo esboços, wireframes e protótipos para visualizar as ideias. Mesmo que sejam requisitados por um negócio, ou seja um caso fictício, os resultados devem ser apresentados como se fossem reais, incluindo métricas hipotéticas que demonstrem o impacto potencial das soluções.

3. Como você acredita que um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) pode ser estruturado para proporcionar um desenvolvimento concreto?

J: Um Plano de Desenvolvimento Individual bem estruturado é uma forma para alavancar o crescimento profissional e pessoal. Começando pela identificação das habilidades e competências atuais e objetivos futuros, metas específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e com prazo definido. Isso também pode ajudar na criaçao do portfólio. 

4. Pensando em quem está em busca de novas oportunidades, como mostrar conquistas e resultados ao pleitear novas posições?

J: Vejo dois cenários possíveis para a transição para a área de design:

  1. Dentro da própria empresa: Neste caso, é importante ter uma conversa aberta com o  supervisor. Explicar o interesse em migrar para o design, destacando habilidades e experiências relevantes. Pedindo orientações sobre como pode se preparar melhor para essa transição e se há oportunidades de treinamento ou projetos onde possam começar a contribuir na área de design.

  2. Vaga externa: Quando se trata de uma oportunidade fora da empresa, é essencial entender profundamente os requisitos da vaga. Adaptando a carta de referência e portfólio para refletir as competências e experiências que são mais relevantes para a posição. Destaque projetos específicos que demonstrem habilidades em design e como pode se agregar valor à nova empresa. Além disso, considerando buscar feedback de profissionais da área para melhorar ainda mais sua apresentação.


Uma visão sobre futuro

1. Como você gostaria que fosse o futuro do Design? E o que seria necessário para que esse futuro se concretize? 

J: Pensar no design de forma singular é uma abordagem simplista. Prefiro enxergar o design como uma disciplina com raízes profundas que se ramifica e amadurece ao longo do tempo. Um ramo sempre depende de um caule e de raízes estruturadas para se fortalecer e sobreviver.

A volatilidade dos profissionais de design, os diversos títulos e as inúmeras formas de abordar o processo criativo são, na verdade, roupagens – um constante marketing de como devemos realizar o trabalho. É como um grande peixe correndo atrás de um cardume sem entender o vasto oceano à sua frente. Tudo isso impede o crescimento do design de forma nutrida.

Gostaria que o design fortalecesse suas bases, crescendo de maneira estruturada e inteligente, sem variações da mesma coisa. Que ajudasse quem não é designer a entender o valor que podemos entregar para os negócios e para a sociedade.

Sempre me pergunto por que os profissionais estão sempre atrás dessa nova roupagem. Como designer experiente, fico intrigada ao ver que, apesar de ter atuado mais de 15 anos em design de interação, 15 em liderança e design de serviços, e nos últimos anos, com o surgimento do design de produto, sou considerada uma pessoa sem experiência nessa área. Isso porque um grupo de pessoas resolveu focar no produto, que é negócios, como se já não fosse o caso antes, visto o crescimento dos produtos digitais e a constante presença dos designers.

Do lado pessimista, acredito que muito do que desenhamos não é melhor do que o que uma IA produz, simplesmente porque as pessoas não valorizam os métodos, apenas o resultado.

Por outro lado, de forma mais positiva, acredito que o design terá mais espaço em operações estratégicas e complexas, com a visualização e articulação de soluções mais sustentáveis. Tudo depende de para onde a cultura mundial nos direcionar.

2. Quais oportunidades você enxerga para a evolução da nossa disciplina de Design de Produtos Digitais?

J: Num curto prazo, é essencial fortalecer o início estratégico e a abordagem contínua, utilizando a IA como ferramenta. Mapear e entender os sistemas, bem como as relações entre pessoas e negócios, pode ajudar na tomada de decisões e na criação de roadmaps mais conscientes e claros em termos de impacto.

O treinamento de um olhar criativo e crítico é fundamental para curar trabalhos e alternativas geradas e simuladas de forma generativa e rápida.

Passamos por várias transformações, mas acredito que essa nova onda é realmente disruptiva. O design será testado, e veremos se ainda temos raízes suficientes para resistir aos ventos.

3. Como você acredita que a Inteligência Artificial vai impactar o trabalho em Design?

J: A democratização do design vai ser acelerada pela tecnologia e pela IA, permitindo que pessoas sem formação específica em design contribuam para o processo criativo. Essa contribuiçao atualmente é facilitada e mediada com o suporte e olhar colaborativo de designers. A IA pode acelerar a produção, geração de resultados, mas também traz desafios, como a necessidade de manter a qualidade, antecipar e amenizar o impacto e a originalidade das soluções.

Os designers "tradicionais" têm um papel crucial nesse cenário. Eles podem atuar como mentores e guias, ajudando a manter os padrões de qualidade e a promover a inovação. A colaboração entre designers formados e aqueles que estão entrando na área através dessas novas ferramentas pode ser extremamente benéfica. Os designers experientes podem oferecer uma perspectiva mais profunda e fundamentada, enquanto os novos talentos podem trazer frescor e novas ideias.

Porém, não podemos fechar os olhos, e não apenas os designers, para a utilização de IA no design, o que levanta questões éticas sobre autoria e responsabilidade. Definir claramente esses aspectos é essencial para uma colaboração saudável.

O que eu tenho percebido também é que harmonizar essas perspectivas pode ser um desafio, pois novos talentos e pessoas que ainda não entendem o valor do processo podem focar mais no resultado final, enquanto designers mais experientes valorizam o processo criativo e a decisão coletiva e consciente.

Concluindo, a democratização do design, impulsionada pela IA, traz tanto oportunidades quanto desafios. A colaboração entre designers tradicionais e novos talentos pode enriquecer o campo do design, desde que haja um equilíbrio entre a inovação e a manutenção de padrões de qualidade. É essencial abordar as questões éticas e valorizar tanto o processo quanto o resultado final para garantir um futuro sustentável e inclusivo para o design.

4. Como você vê a próxima geração de designers de produtos digitais?

J: Eu quero acreditar que essa nova geração de designers vai ser tão resiliente quanto as gerações anteriores, mas que venham nutrir nossas raízes para que amadureçamos como profissão ao longo do próximo século.

Sobre a Jane

Jane Vita, Designer Líder de Serviços na Metso e pesquisadora de doutorado na Universidade Aalto

Com mais de vinte anos de experiência em design, Jane desenvolveu expertise em uma ampla gama de áreas, incluindo comunicação visual, estratégia digital e inovação. Sua trajetória acadêmica inclui uma graduação em Comunicação Visual e dois mestrados, um em Web Design e outro em Inovação e Design de Serviços. Jane está na Metso há pouco mais de um ano como Designer Líder de Serviços. Antes disso, ela prestou consultoria para empresas renomadas como Fjord, Futurice e Digitalist. Isso lhe proporcionou oportunidades de trabalhar com diversas culturas em uma ampla gama de setores e marcas, incluindo Porto Seguro, OP Group, Pacific Blue Cross, Fennia, Nokia, Skype, BBC, Fortum, Volvo, Renault, BMW, Safmarine, Marcopolo, Rovio, YIT, Finning e Swarovski. Além do seu trabalho, ela também é apaixonada por ensinar.

Ela ministrou cursos na Aalto sobre "Design de Serviços com Tecnologias Emergentes" e lecionou na Laurea para o programa de mestrado sobre "Design de Serviços em Contexto Digital". Na PuCDigital, lecionou "Design Thinking", com foco na transformação da cultura organizacional.

Publicado em:

Mulher sorridente com cabelo curto e cacheado, vestindo blusa preta, em ambiente interno com fundo branco.

Gabriel é estrategista, autor e palestrante. Publicou livros sobre design estratégico, já palestrou na UX Conf e em empresas como Itaú, Boticário, Magazine Luiza, Ifood e Livelo. Formado em design de produto, é sócio da PunkMetrics e já trabalhou em empresas como Wine.com.br, Autoglass, SKY, Handmade e Thoughtworks. Além de ajudar no desenvolvimento de outros designers, é especialista em temáticas como estratégia, ecossistemas, inovação e educação.

Livros de Design que amplificam e potencializam a voz do Design brasileiro.

Livros de Design que amplificam e potencializam a voz do Design brasileiro.

Livros de Design que amplificam e potencializam a voz do Design brasileiro.