30 de abr. de 2025
A IA poderá substituir Content Designers e UX Writers?
Escrever ficou mais fácil, mas criar experiências continua sendo um trabalho humano.
De todas as controvérsias e as reflexões que a Inteligência Artificial trouxe, a relação com a escrita é uma das mais alarmantes. Será que a IA será capaz de substituir integralmente posições relacionadas à criação e à revisão textuais? Pensando no âmbito digital, especificamente no Design, Content Designers e UX Writers têm seus cargos com os dias contados?
Esse é um assunto paradoxal que deve ser analisado sob vários prismas. Há poucas certezas e muitas dúvidas que nos incitam a refletir. A maior de todas as asserções é que a tecnologia dos modelos de LLM (Large Language Model) evolui a cada dia e não podemos prever exatamente quando a escalabilidade alcançará um platô.
A verdade é que, desde quando os primeiros produtos de IA foram lançados – por volta de 2020, as novidades não param de surgir. E, claro, com elas sentimos um misto de excitação com receio. O novo carrega intrinsecamente uma dualidade analítica. Aderência e desconfiança; empolgação e desconforto.
Entretanto, é indubitável que a IA veio para ficar e que precisamos nos acostumar com sua onipresença. Seres adaptáveis que somos é uma questão de tempo para que ela se torne corriqueira. Mas agora, neste exato momento, estamos vivendo um momento histórico de revolução tecnológica que terá um grande impacto social, cultural e econômico.
Aliás, já podemos dizer que a realidade atual se equipara a grandes marcos da humanidade. A Revolução Industrial dos séculos 18/19, o advento da eletricidade e dos meios de comunicação dos séculos 19/20 e a Revolução Digital do século 20, com o surgimento do computador, da internet e do smartphone.
Então o pensamento não gira em torno da possibilidade de usar a ferramenta porque ela simplesmente está – e estará cada vez mais – absorta em nosso cotidiano. A questão é o impacto que ela terá na nossa relação com o trabalho e em como realizamos nossas atividades.
O desafio é aprender como usá-la em benefício das nossas carreiras, do nosso futuro, sem o fatalismo do medo da substituição.
A IA poderá substituir Content Designers e UX Writers?
Para responder essa questão, é preciso entender o que é a LLM e como ela funciona. Ela basicamente imita a produção de conteúdo feita por humanos, por meio da previsão da próxima palavra da frase através de probabilidade matemática.
Para isso, ela consome uma quantidade gigantesca de dados, a fim de juntar as palavras corretamente e gerar frases coerentes. Logo, a eficiência vem do enorme volume de informação que ela usa e processa para aprender os padrões de linguagem. São bilhões de dados combinados entre si. Quanto mais treinada, mais assertiva ela fica.
Embora o termo que usamos para designá-la seja inteligência artificial, a LLM não é exatamente inteligente. De forma bem genérica, a inteligência envolve a capacidade de interpretar, compreender, ter consciência, criatividade, discernimento e tomar decisões. E isso é inerente ao ser humano.
A IA não entende o mundo, não tem opinião própria e é cheia de vieses advindos do material de treinamento que ela usa. Ela é basicamente uma junção de algoritmos capazes de simular algumas habilidades humanas. É revolucionário, sim, mas não é capaz de nos incapacitar como mentes pensantes.
Portanto a IA não pode substituir um trabalho intelectual, que requer uma série complexa de habilidades humanas combinadas. Ela pode auxiliar e otimizar diversos processos do ofício da escrita, contudo, precisa de supervisão humana. Só as pessoas podem lapidar e aplicar adequadamente os outputs.
Content Designers e UX Writers usam diversas ferramentas e técnicas, além das hard e soft skills pessoais, para decidir como guiar a pessoa usuária da melhor maneira possível no uso de um produto ou serviço. A IA pode ser uma grande aliada para acelerar processos que levariam mais tempo para serem executados. Apenas isso.
Para reforçar: não, a IA não vai roubar nosso trabalho. Ela vai nos ajudar a ser mais eficientes, ganhando tempo para fazermos o que só nós, humanos, podemos fazer: ter ideias maravilhosas e mirabolantes.
Interpretação do contexto: uma capacidade exclusivamente humana
Todavia, a IA tem uma potência operacional impressionante. Pode gerar inúmeras versões de texto de determinado assunto em um intervalo de tempo irrisório, mas decidir qual caminho seguir é uma tarefa humana. E como essa decisão é tomada depende do nosso repertório pessoal, vivências e subjetividade.
É fato que a rede neural, estrutura basal da LLM inspirada no nosso cérebro, consegue extrair informações das palavras de acordo com semântica e elementos textuais. Só que há muitos outros contextos envolvidos para que decidamos pelo melhor caminho.
Há a ideologia do negócio, a visão da companhia, o cenário do mercado e, talvez o aspecto mais importante, a empatia pela pessoa usuária, como fatores envolvidos no processo de criar textos que orientam. E mais: que encantam, conquistam e fidelizam. Inclusive, nada é mais humano do que a empatia.
Empatia faz parte dos alicerces da construção de uma boa experiência para a pessoa usuária. É através dela que compreendemos os pontos de dor e as necessidades de quem vai usar o produto ou o serviço, para então conseguirmos traçar as melhores rotas.
Relacionar tudo isso é o que nos confere a capacidade de interpretar, chegando a resultados condicionados por uma combinação específica de eventos. Porque pensar como nós pensamos, organicamente, a IA não tem como aprender. Ao menos não da forma como ela existe hoje, sendo matematicamente uma manipuladora de estatística.
Como a IA pode ser uma ferramenta no dia a dia
Não temos que esbravejar contra a IA e nem ignorá-la acreditando que é um hype que vai desaparecer mais cedo ou mais tarde. A meu ver, temos que aprender como incorporá-la nos nossos processos.
Saber usar IA já tem aparecido como pré-requisito de algumas vagas na área de tecnologia. Depois do vazamento (proposital?) do e-mail do CEO do Shopify, dizendo que saber IA era uma necessidade, não um diferencial, muitos outros executivos prescreveram o uso de IA como imprescindível para qualquer cargo relacionado.
Logo, remar contra a maré vai ser perda de tempo. O importante é enxergá-la como aliada e explorá-la para potencializar nossa especialidade.
Dá para usar IA do discovery ao delivery. Resumindo e tirando os melhores insights de pesquisas, fazendo brainstorming na hora da ideação, sugerindo caminhos alternativos para testes A/B, adaptando textos para diferentes públicos, variação de tom de voz, simulando jornadas para entender os possíveis comportamentos da pessoa usuária, verificando se o texto está acessível e inclusivo e por aí vai.
Dá também para construir dicionários de vocabulário controlado e glossários mais rapidamente, entregáveis esses que geralmente levam mais tempo para serem feitos. Outro uso interessante é alimentar a IA com o guia de estilo da marca e conferir se a voz, o tom e as diretrizes estão cobertas. É uma forma de manter a tão desafiadora consistência.
Explorar a IA como ferramenta requer, adivinhe só, criatividade. Até para descobrir como escrever os prompts adequadamente para extrair o que se quer. Sairão na frente profissionais que se adaptarem mais rápido e enxergarem o valor da IA nos seus processos de escrita. O potencial de nos tornarmos melhores escritores de experiências é um mar aberto. A decisão é sua: desbravar as águas corajosa e intensamente ou relutar e deixar o barco no cais?
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UX Writer, Content Designer e Designer Conversacional com mais de seis anos de experiência – e há mais de 12 anos trabalhando com digital content.
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